quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Do não querer

Da janela da minha casa vê-se uma réstia mal-amanhada dos jardins da Gulbenkian e um meio El Corte Inglés bem lá no fundo. O bairro é velho mas sossegado e quando não temos de passar quinze minutos à procura, até que é fácil estacionar o carro. A casa é como o bairro e quando não temos de passar quinze minutos à procura de vontade de lá estar, até que é fácil lá viver.

Um turbilhão. A minha cabeça é como um turbilhão.

Todos os dias quando saio de casa e me dirijo para o carro sou forçado como que a um bailado meio idiota para não pisar os dejectos dos canídeos que as senhoras trazem a defecar aos passeios do bairro. Um dia ao sair do prédio dei de caras com uma senhora que trazia pela trela um daqueles mini-quadrúpedes de pelo encaracolado que se convencionou chamar caniche. A senhora olhava embevecida enquanto o pobre animal, na sua lucidez de cão em tudo comparável à lucidez da dona, deixava mais um conjunto de bolas castanhas no passeio. Nem o olhar atónito do senhor da oficina que funciona no rés-do-chão foi suficiente para tirar aquele sorriso da face da senhora. Ainda pensei perguntar-lhe o que faria se me visse a mim, João, replicar à porta de sua casa a acção do canídeo... Mas não disse nada. Achei que ela se iria limitar a sorrir ainda mais embevecida para o resultado do acto e continuar a sua pequenina vida.

Além do mais estou em Lisboa.
E aqui ninguém quer saber da vida dos outros para nada.

2 comentários:

Anónimo disse...

Podias comprar uma Vaca, a mimosa, por exemplo, e mete-la a competir com o cão dessa senhora.... :)

Maltez disse...

LOL!!!

(Isto é um LOL genuíno)